Normalmente quando estou em viagem perco-me em pensamentos. Ver as paisagens efémeras fugirem faz-me sentir que haverá sempre algo novo à minha espera lá fora, assim eu esteja desperta para o mundo de sensações que me rodeia.
Naquele dia, porém, o cenário tocou-me de forma especial. Talvez pelo meu estado de espírito, talvez pela peculiar luz daquele momento, ou talvez mesmo por ambos e outros tantos motivos que entretanto foram esquecidos, aquela paisagem, já de há muito conhecida, inspirou-me, levando-me a embrenhar-me pelos tortuosos caminhos daqueles montes inóspitos, de ar profundo e solene.
Ali a vegetação era muito densa, com pinheiros típicos de terras mais húmidas e essa solidão natural confortava-me ...
Não estava um típico final de tarde de Verão – abafado, quente e sem sinal de nuvens capazes de perturbar essa aridez. Ao invés, o céu estava carregado de pesadas e negras nuvens, ameaçando chover, e sobre o vale pairava um denso nevoeiro que me levava a crer que tudo de misterioso ali poderia acontecer.
De repente, a realidade assumia contornos de fantasia e tudo parecia possível naquela terra que já não reconhecia como parte de Portugal, mas antes como uma fantasmagórica paisagem distante, berço de todos os mitos, mistérios e lendas ancestrais.
Sentia-se, então, o cheiro da terra sedenta de chuva, tão parca no Verão, e ouviam-se os ruídos dos animais que esperavam já a trovoada. Anunciado pelo ar pesado e quente, o primeiro clarão do relâmpago iluminou, com a sua luz cruel e fria, o céu raiado, quase de imediato seguido pelo ribombar do trovão, que ecoou com todo o seu ímpeto na vastidão do vale, levando os bichos a recolherem à segurança das suas tocas.
Apesar de ser território já pisado pelo Homem, ali ainda se sentia o genuíno pulsar da natureza e, mesmo querendo dominá-la, era ela que continuava a ditar o tempo e os seus afazeres.
Nesse momento, percebi o quanto me identificava com aquele lugar e imaginei-me numa sala com vista para os penhascos, num dia como aquele, chuvoso, sentindo o vento a fustigar as janelas como que querendo-me relembrar o seu poder. Não haveria nada melhor do que sentar-me à frente da lareira, ouvindo o crepitar da lenha, a observar a vista das janelas rasgadas para o imenso precipício.
Perdida em pensamentos, quase conseguia sentir o delicioso cheiro da terra molhada enquanto era transportada para os cenários dos meus livros ... para as florestas de fantasia onde ainda se escondem trasgos e medos que a civilização procura dissipar. Naquelas paragens o folclore continuava latente e era esse lado oculto que me fascinava e puxava, envolvendo-me nas suas brumas.
Naquele dia, porém, o cenário tocou-me de forma especial. Talvez pelo meu estado de espírito, talvez pela peculiar luz daquele momento, ou talvez mesmo por ambos e outros tantos motivos que entretanto foram esquecidos, aquela paisagem, já de há muito conhecida, inspirou-me, levando-me a embrenhar-me pelos tortuosos caminhos daqueles montes inóspitos, de ar profundo e solene.
Ali a vegetação era muito densa, com pinheiros típicos de terras mais húmidas e essa solidão natural confortava-me ...
Não estava um típico final de tarde de Verão – abafado, quente e sem sinal de nuvens capazes de perturbar essa aridez. Ao invés, o céu estava carregado de pesadas e negras nuvens, ameaçando chover, e sobre o vale pairava um denso nevoeiro que me levava a crer que tudo de misterioso ali poderia acontecer.
De repente, a realidade assumia contornos de fantasia e tudo parecia possível naquela terra que já não reconhecia como parte de Portugal, mas antes como uma fantasmagórica paisagem distante, berço de todos os mitos, mistérios e lendas ancestrais.
Sentia-se, então, o cheiro da terra sedenta de chuva, tão parca no Verão, e ouviam-se os ruídos dos animais que esperavam já a trovoada. Anunciado pelo ar pesado e quente, o primeiro clarão do relâmpago iluminou, com a sua luz cruel e fria, o céu raiado, quase de imediato seguido pelo ribombar do trovão, que ecoou com todo o seu ímpeto na vastidão do vale, levando os bichos a recolherem à segurança das suas tocas.
Apesar de ser território já pisado pelo Homem, ali ainda se sentia o genuíno pulsar da natureza e, mesmo querendo dominá-la, era ela que continuava a ditar o tempo e os seus afazeres.
Nesse momento, percebi o quanto me identificava com aquele lugar e imaginei-me numa sala com vista para os penhascos, num dia como aquele, chuvoso, sentindo o vento a fustigar as janelas como que querendo-me relembrar o seu poder. Não haveria nada melhor do que sentar-me à frente da lareira, ouvindo o crepitar da lenha, a observar a vista das janelas rasgadas para o imenso precipício.
Perdida em pensamentos, quase conseguia sentir o delicioso cheiro da terra molhada enquanto era transportada para os cenários dos meus livros ... para as florestas de fantasia onde ainda se escondem trasgos e medos que a civilização procura dissipar. Naquelas paragens o folclore continuava latente e era esse lado oculto que me fascinava e puxava, envolvendo-me nas suas brumas.
3 comentários:
Finalmente a menina Cat volta a partilhar algo connosco =).
Belas viagens que nos descreves aqui, provavelmesnte referentes a maravilhosas paisagens de Trás-os-Montes, senão, pelo que conheço, também se aplica, ou até á zona do Minho, regiões onde abundam vegetação e uma geomorfologia irregular, que confere a estes locais um misticismo único, quase que nos transportando para tempos remotos, quando o ser humano se encontrava mais em harmonia com a natureza, respeitando-a e sacralizando-a.
No entanto, como nos demonstra este belo texto, nem tudo está perdido, porque ainda podemos encontrar estes locais, no nosso belo país, que felizmente nem toda a gente conhece, e muitos não se interessam por conhecer, permitindo de certa forma que mantenham o seu equilibrio e que apenas aqueles que o respeitam tenham acesso.
Desta forma deixo também um apelo a todos os que gostam de viajar, de dar uns bons passeios e que respeitam a natureza, a viajar mais por este belo país, que muitas vezes ostenta uma beleza que nunca pensamos encontrar cá, que parece que só vemos em livros e em fotos da National Geographic.
Gostei, continuem com belas viagens e partilhem connosco.
Cogumelo Vermelho
Cat, conseguiste deixar-me nostálgica.. Profunda a tua reflexão, parece um capítulo tirado das páginas de um livro onde tanto me gosto perder.. Também me levou a outros tempos, a outros lugares, que partilhamos outrora.. Enfim, quem lê o meu perfil não deixa de reparar que "viagens" não é por nada uma das minhas músicas preferidas..
Fizeste-me viajar outra vez.. Obrigada pelo momento..
semper idem...
Muito bom, mesmo.
Profundo, o relato toca a qualquer um que faz das viagens um dos seus passatempos e sonhos mais constantes.
Novos cheiros, novas paisagens, novos ares, novas caras, novos hábitos... um novo mundo.
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